quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Recordações orientais

Ainda atordoada da viagem, sentada no banco da secretaria da universidade à espera de ser atendida, reflicto o meu Verão. Grande Verão! Fiz o tudo o que planeei fazer e superou as minhas expectativas. Sobretudo aprendi e é tão bom aprender! É bom sabermos que cada dia que passa enriquecemo-nos com o que assimilamos com as nossas experiências.
Em postais, que faço questão de mandar a quem mais amo, escrevi por diversas vezes que me sinto uma cidadã do mundo. Sinto que me adaptava bem em qualquer lugar e, sem dúvida que a Ásia fazia dela um segundo lar durante uns tempos.
O Sérgio, um amigo meu, que também visitou há uns anos atrás a China, havia-me avisado que depois de eu ter a percepção exacta do Oriente, teria o impulso imediato de subestimar o que anteriormente visitei. Sou obrigada a concordar com ele e fiz questão de lho dizer ainda lá. Sou europeia e defenderei sempre este velho continente, mas a Ásia, esse continente enormérrimo, onde a cultura e crenças são o oposto da nossa, com um misticismo muito próprio e com barreiras quase inatingíveis aos olhos dos ocidentais, faz dele um lugar único e apaixonante.
Recordo-me ainda da quantidade de vezes que me sentei em bancos de jardim ou num parapeito de uma montra a olhar a azáfama dos lugares, os costumes saudáveis dos chineses que ginasticavam e meditavam ou até mesmo nas simples expressões de cada pessoa que passava por mim. Pode parecer um pouco demente, mas gosto de o fazer em cada sítio que visito e, este era sem dúvida o mais discrepante dos que tinha visitado.
Impressionada com o ruído do trânsito que se misturava com os "oi men cois lois shin pun pan" das centenas de pessoas que percorriam os passeios, apercebia-me que era eu a diferente, a intrusa que teimava em fazer perceber o que ouvia ou o que lia em alfabeto chinês. Tudo tão diferente, tudo tão imperceptível aos meus ouvidos e aos meus olhos.

Porque a fila é longa, ainda tenho tempo de me lembrar da correria que foi até chegar ao aeroporto de Hong Kong, na hora da partida. Em duas horas tinha de atravessar o mar que separa Macau a Hong Kong e fazer-me chegar à ilha onde está instalado o aeroporto. Cansada e sem grandes forças para carregar as malas, um taxista chinês aborda-me e negoceia comigo o preço. O tempo era escasso, por isso rapidamente se chegou a um acordo. Por 330 $HK ficou combinado levar-me até lá. Pouco falava inglês, mas insistia repetir com um mau sotaque "beautiful beautiful". Referia-se à cidade, apontando para cada prédio, ponte ou jardins que passava e como se eu nunca a tivesse visito. Ria-me, porque admirava a simpatia e o esforço do senhor em ultrapassar tudo e todos, respeitando os radares espalhados pelas estradas, de forma a que conseguisse chegar a horas do meu check in. Resultado final, chegámos com alguma antecedência, mas o taxista fez que se enganou no troco e, com 20$HK a mais no bolso, desapareceu num ápice sem que me desse tempo de reclamar. Sorri e pensei para mim mesma: "este episódio fica com mais carisma assim." Antes das 10h30m de viagem que me esperavam, andei descansada pelas lojas que compunham o aeroporto, à espera da última chamada.
Depois de uma viagem, que por sinal, não foi tão calma como na ida, chego a Amsterdão. Habituada a duas semanas em que o trânsito todo ele se fazia pela esquerda e ao sol e calor de Macau, eis que me deparo com bicicletas e carros conduzidos do lado contrário e um vento agreste acompanhado por um sol tímido. Estava de regresso à Europa.
Uma vez que só tinha vôo para Portugal no dia seguinte, o primeiro a ser bombardeado com as minhas aventuras asiáticas foi o Francisco. Num restaurante italiano, paguei o jantar que em Agosto ficou prometido e num belo serão holandês, tive a minha primeira refeição sem pauzinhos.

Agora, resta-me pousar durante uns tempos no meu belo Lameiro da Serra, até que decida por outro destino que me obrigue a levantar vôo novamente.

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