sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Viva la vida!

Dias 14, 15 e por fim 16 do InterRail
Partimos de Veneza com destino a Marselha. O objectivo era no sul de França, apanhar o comboio com destino a Aveiro ou Coimbra. Lá, fomo atendidas com a maior má vontade do mundo por uma francesa que não falava inglês e que ironicamente, trabalhava nos serviços internacionais. "Non non non" respondia repetidamente às nossas questões. Mais tarde ainda disse, em francês, que não havia comboio para interrailers até sábado à tarde. Acho que foi a pior notícia que alguém nos podia ter dado naquele dia quela hora em que as forças estavam no limite. Por sorte, apareceu um francês, embora também não soubesse falar inglês, com a sua elevada simpatia e boa vontade, esforçou-se minimamente para nos ajudar e arranjar alternativas.
E foi o pagamento de 86€ pelo bilhete de TGV até Bordéus. Apesar disto, tivémos de permanecer até ao dia seguinte em Marselha. Ultrapassado em muito o nosso orçamento, optámos por ficar a dormir na estação. À meia noite e meia, os seguranças indicaram-nso uma sala de acolhimento, onde poderíamos passar a noite. Dirigimo-nos até lá. Por momentos não sabiamos onde era mais seguro, se na rua ou numa sala com bons metros quadrados, mas que servia de albergue para emigrantes, provavelmente clandestinos ou sem residência fixa, mendigos e alcoólicos. Encontrámos rapidamente um canto. Sentámo-nos e caladas, com receio de soltar qualquer gemido, observávamos cada pessoa que entrava. Medo! Muito medo! Não sei que plavras usar para descrever tal episódio inigualável na nossa vida. Havia pessoas dos 0 aos 90 anos, todos praticamente oriundos do norte de África, logo a lingua que predominava era o árabe, famílias inteiras entravam com cobertores e almofadas na mão. O choro, o escarrar, os gritos de discussão por um estar a ocupar o lugar indevido era constante. Provavelmente, estaríamos no lugar de alguém,mas ninguém teve a coragem de nos incomodar. Talvez o nosso ar de assustadas era bastante intimidador.
Às 4h30, fomos abruptamente acordadas pela polícia francesa. Era a hora de abertira oficial da Gare de Marseille. Ficámos aliviadas e fomos dormir para uma sala melhor, limpa e minimamente acolhedora.
Às 7h da manhã, apanhámos o comboio com destino a Pui, onde faríamos a troca com destino a Coimbra B. Todo este percurso foi mais de 24 horas. Às 8h30 de sábado, dia 16 de Agosto, chegávamos a Portugal, dando por terminado a nossa grande aventura.
Sem dúvida que saímos do nosso último comboio, muito mais felizes e mulheres. Tinhamos acabado de concretizar um sonho de adolescência e que é comum a tantos outros, mas que não tiveram a mesma chance do que nós.
O Viva la vida, dos ColdPlay, é um belo mote para dizer que de facto, a vida consegue sorrir. E durante os dezasseis dias, o sorriso e felicidade foi constante.


4 comentários:

Bruno Julião disse...

Como não te dignaste a aceitar o meu último comentário :-), acerca do post anterior, repito a mensagem principal: parabéns pela aventura; viajar é viver a sério, não é?

Anónimo disse...

E eu que duvidei das vossas capacidades (apenas por uns breves instantes!)
Gostei do "conto" e por momentos conseguiste colocar-me ao vosso lado.
Beijos pa ti e vemo-nos no sitio do costume... por aí!!

Kaicy disse...

Ola:) adorei o teu blog admito que fiquei mesmo fascinada com as vossas peripécias e com as fotos lindas do interrail que fizeram e que tambem espero vir a fazer para o ano:)

bjins e continua a aventurar-te pelo mundo:)

Kaicy

Anónimo disse...

Só agora li o "resumo-final" da nossa jornada, que tão bem retratas e recordas.
Acho que ainda nem eu acredito no que fizémos, no que vivemos e no que crescemos em conjunto.
Partilho agora publicamente um imenso obrigada pela companhia! Sinto-me privilegiada por te ter tido ao lado...
O "Viva la Vida" reporta-me para dentro do Louvre, em frente a Gericault; para inusitados almoços em passeios, ora em Paris a fugir da chuva, ora em Viena numa sombra de igreja, de mapa na mão; para Veneza, à noite; para longas viagens; para manhãs difíceis no metro; mas, sobretudo, para sorrisos... para ti e contigo.
"Viva la vida"... bem que o fizémos!